Ao caro leitor
Daniel, um dos alunos
da primeira turma de japonês da PUC-RS que eu assumi em 2001, logo depois que
eu me mudei do interior para Porto Alegre, foi para o Japão pela primeira vez
junto com sua esposa em novembro passado, realizando seu sonho desde sua adolescência.
Eles viajaram pelo
“quase” Japão inteiro durante 1 mês e pousaram até na casa dos meus pais
durante dois dias.
Eu propus a entrevista
para Daniel sobre viagem ao Japão e ele aceitou essa entrevista com prazer.
Muito obrigado pela
sua disponibilidade,Daniel!
Acredito que essa
entrevista seja útil para quem quer viajar para Japão.
Segue a entrevista.
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1. Quais cidades você
visitou nesta viagem para Japão e qual cidade você gostou mais?
Tokyo, Sendai,
Yamagata, Morioka, Aomori, Hirosaki, Hakodate, Sapporo, Niigata, Nagano,
Yamanouchi, Matsumoto, Kyoto, Osaka, Nara, Ise, Nagoya, Tokyo (novamente) e
Tsukuba.
Muito difícil responder qual gostei mais... Posso no máximo fazer um top 5 (em ordem alfabética):
Kyoto, Nara, Osaka,
Tokyo e Yamagata
O que posso dizer é que gostei do Japão como um todo!
2. O Japão era como
você imaginava?
Não, era muito melhor
do que eu imaginava!
3. Você conseguiu se
comunicar em japonês com os japoneses?
Sim, mas a idéia que
as pessoas mais velhas falam mais devagar e por isso é mais fácil de entender
não funciona lá. As pessoas mais velhas falavam um japonês muito mais difícil
de entender, e na maioria dos casos falavam muito mais rápido. As pessoas mais
jovens além de falarem mais devagar para me auxiliar a entender, utilizavam
palavras e estruturas frasais mais fáceis, desse jeito consegui conversar muito
com os nativos.
4. O que você achou
sobre os japoneses?
Os japoneses no geral
são bem reservados, mas um “konnichiwa” e um sorriso davam abertura pra muitas
conversas, e deu pra perceber que eles gostam de conversar e querem saber de
onde vim, e como é o Brasil.
5. Tem algum episódio interessante
que gostaria de contar?
Tivemos sorte desse
ano, por ser o 80º aniversário do imperador, abrirem mais cedo os jardins do
palácio imperial (normalmente abertos somente nos dias 23 de dezembro e 1 de
janeiro). Nessa ocasião estava tendo uma exposição das fotos que o imperador
tirou durante sua primeira viagem fora do Japão e alguns tesouros. Nos jardins
e na exposição tinha muita fila, mas dentro do salão de exposição existiam
filas que iam passando do lado do vidro que protegia as relíquias, mas além das
filas andarem devagar, muita gente furava a fila (e estou falando de idosos
japoneses). Cansado da fila que andava muito devagar, eu aproveitei a minha
altura e saí da fila, ia andando fora dela no meu ritmo, enquanto olhava por
cima das cabeças das pessoas.
Na última fileira de
fotos e presentes recebidos pelo imperador, uma senhora com 1,50 metros de altura
ou menos, que estava na fila, começou a me empurrar no ritmo da fila (mesmo eu
estando fora da fila). Ao chegar no fim do vitral, onde tinham muitos recortes
de jornal, e textos explicativos, eu parei para ler, e sentindo que ela queria
continuar me empurrando, eu firmei meus pés no chão. Nesse momento ela usou as
duas mãos pra me empurrar, e não conseguindo, olhou pra cima, fez uma careta
pra mim e um som como “tsc”, saiu da fila e foi embora.
Não entendi porque ela
fez isso, se eu não estava no caminho de ninguém, e justamente nesse momento
estava andando mais devagar do que a própria fila. De qualquer forma achei esse
episódio muito peculiar.
6. Você quer visitar o
Japão mais uma vez? Caso sim, quais cidades você gostaria de vistar na próxima
viagem?
Com certeza! Gostaria
de conhecer algumas regiões que não tive oportunidade de visitar como Shoryudo,
sudoeste de Honshuu, Kyuushuu, Shikoku e Okinawa. Além disso, gostaria de
voltar pra Ise, Yamagata, Nagano, Matsumoto, Kyoto, Tokyo, Tsukuba, Nagoya.
7. O que você não
gostou no Japão?
A dificuldade de
encontrar informações sobre os feriados do Japão e dias de folga das cidades
foi algo que trouxe alguns inconvenientes para nos, como por exemplo, ficamos dois
dias em Nagoya, mas como o segundo dia era o dia de folga da cidade, diversas
atrações não abriam, e por causa disso acabamos somente visitando o castelo no
primeiro dia, e no dia seguinte fomos embora de manhã.
Outro episódio que
isso causou algum problema foi em Kansai, que pegamos durante um feriado
nacional, então foi muito difícil conseguir vaga em hotel na região, e por
causa disso deixamos de visitar várias cidades que originalmente tínhamos
planejado.
8. O que você achou
sobre culinária japonesa? É diferente da comida japonesa no Brasil?
A comida japonesa do
Japão é muito boa e totalmente diferente do que estamos acostumados no Brasil.
A lista é muito grande, então vou citar somente seis pontos:
1)
Comida
sempre nova e fresca. À noite em muitos bares, restaurantes, mercados, dava pra
ver dúzias de sacolas com comida jogadas no lixo. A comida mais “velha” que
vimos/comemos era do dia anterior em um restaurante, pois como era o dia de
folga daquela cidade, o peixeiro não tinha vindo naquela manhã entregar frutos
do mar frescos.
2)
Já sabia
que Sushi e sashimi são comidas para algumas ocasiões somente (happy hour, por
exemplo), e lá é muito caro, pagando de três a nove dólares por peça de
nigirizushi. Descobrimos que se indo a um bar de sushi na hora do almoço eles
fazem conjuntos de sushi na hora por bem menos, mas a noite o preço muda e fica
caro. Um exemplo foi um sushi bar que fomos no almoço e pagamos 13 dólares por
13 peças, e a noite essas mesmas 13 peças passavam a ser 41 dólares. Mesmo
assim o sushi lá é muito mais gostoso, por causa do arroz melhor, vinagre de
sushi na medida exata, e frutos do mar sempre frescos.
3)
Yakisoba:
Não tem comparação com o que comemos aqui. A massa tem um sabor excelente por
si só, e os ingredientes só melhoram. Pedimos yakisoba de sal, que é o mais
simples, em diversos lugares do Japão e ganha disparado de qualquer um que
tenha comido aqui no Brasil, no sul, sudeste e nordeste.
4)
Massas:
Ramen é o nosso miojo, mas lá é muito mais gostoso, mas bem mais gordurento.
Talvez o que tenhamos comido não fosse o melhor, e só comemos uma vez. Udon e
soba são sempre servidos novinhos, não vi pra vender massa que não fosse
fresca, inclusive em diversos lugares dava pra ver o cozinheiro preparando (com
farinha e água) e cortando o macarrão que ia ser servido.
5)
Dia a dia:
Macarrão ensopado com algum fruto do mar ou cogumelo por cima, essa é a
principal refeição dos japoneses fora de casa. Em alguns lugares dava para pedir
arroz branco e misoshiro para acompanhar. Outro prato que vimos bastante é uma
cumbuca grande de arroz com legumes e carne por cima. Esses são pratos rápidos,
que custam entre 3 e 13 dólares.
6)
Temakizushi:
Conhecido aqui no Brasil por Temaki, simplesmente não existe lá comercialmente.
É um prato super simples de fazer, então as pessoas fazem em casa. Não tinha nem
opção de comprar em todos os lugares que fomos.
9. O que você comprou
lá no Japão?
- Lego com preço muito próximo ao dos EUA, e em alguns casos bem mais barato.
- Yakimono: Porcelana e cerâmica. Fomos a um festival que estava tendo em Jingu Gaien em Tokyo, e entre muitas lojas de comida, e algumas lojas muito caras de porcelana, encontramos uma tenda que estava com promoções. Com menos de 100 dólares compramos vários pratos, tigelas, cumbucas e xícaras.
- Aparelho de massagem para os ombros e costas.
- Livros, pra ver se eu me puxo mais pra aprender a ler kanjis.
- Chocolates diferentes, como por exemplo, Kit-Kat de wasabi e Pocky de chá verde.
- MUITOS imãs e postais de todos os lugares que visitamos.
10. Como foi Home Stay
no Japão?
Foi bem divertido! A
principio íamos de táxi até a casa, mas no fim decidiram ir nos buscar, o que
facilitou bastante. O bairro onde era a casa era bem peculiar com casas grandes
em muitos estilos diferentes. Nos receberam muito bem e ficamos muito bem
instalados. Comemos comidas típicas, e nos levaram para conhecer diversos
pontos de Tsukuba. Gostaria de voltar lá mais uma vez para explorar com calma
esses lugares (o que não foi possível devido ao curto tempo que ficamos). E
claro, conversamos muito o tempo todo!
11. Tem alguma lição
que você aprendeu nesta viagem?
Transformar a escala
nos EUA em uma pausa de uma ou duas noites. 34 horas direto pra ir e 30 pra
voltar é muito desgastante.
12. Qual conselho você
daria para quem vai viajar para o Japão pela primeira vez?
Se possível, aprenda
um pouco a língua. Sem saber, uma viagem pro Japão já é muito divertida,
sabendo, fica mais divertida ainda.
Planeje a viagem com
antecedência. Reservando hotéis com 2-3 meses de antecedência, se consegue
preços incríveis, mesmo em cidades turísticas.
;)