Ao caro leitor
Apesar de ser uma
das palavras que estão na moda no Japão, eu não ousei a tratar sobre isso num post, no qual tratava de palavras novas.
Hoje eu gostaria
de tratar sobre a realidade de trabalho no Japão.
Black é
preto.Kigyou é empresa. Então, se traduzir este termo ao pé da letra, ”Black
Kigyou” significaria “empresa preta”.Contudo,assim não dá para entender,ne?
Este termo é
utilizado para as empresas que costumam praticar os seguintes atos.
- Não pagar as horas
extras aos seus funcionários ou pagar as horas extras bem menos do que as horas
extras correspondente às horas trabalhadas na realidade aos seus funcionários.
- Cobrar o
resultado absurdo do funcionário para que ele não consiga alcançar a meta e se
sinta inútil na empresa e deixe a empresa voluntariamente, o que é uma prática
muito comum quando a empresa quer demitir funcionário determinado.
- Transferir
funcionário de cargo alto para um setor específico, no qual ele faz trabalhos
muito simples, para que ele se sinta inútil na empresa e deixa a empresa
voluntariamente.
- Publicar um
anúncio no classificado, no qual informa seu salário incluindo remuneração das
horas extras.
- Não autorizar
funcionário sair da empresa sob a ameaça de que a empresa vai entrar na justiça
contra ele justificando que ele deu prejuízo à empresa devido à saída dele.
- Nomear o
funcionário recém-contratado para um cargo alto como o chefe de um filial e
pagar lhe o salário não proporcional ao este cargo.
- Deixar os
funcionários num ambiente de trabalho onde ocorre assédio sexual ou xingamento
absurda por superiores com frequência.
Resumindo tudo
isso, Black Kigyou é empresa que não trata de seus funcionários como um ser
humano e abusa do seus serviços e suas bondades sem obedecer às compliances determinados
pelo lei trabalhista.
Como eu já tratei
num post antes, a grande maioria dos universitários no Japão se forma empregado.Eles
estão apavorados em relação ao Black Kigyou,pois eles não querem entrar na
Black Kigyou de jeito nenhum.Só que é difícil distinguir Black Kigyou das
empresas normais por parte dos estudantes, uma vez que eles nunca trabalharam
em algumas empresas com carteiras assinadas antes.Ou seja, eles vão saber disso
só depois que eles começaram a trabalhar na empresa.
Mesmo que a empresa
é reconhecida como uma das melhores empresas no ramo,isso não garante que a empresa
ingressada não é classificada como Black Kigyou.Pelo contrário, graças ao
trabalhos duros ou sacrifícios por partes dos seus funcionários ao longo das
décadas, talvez essa empresa chegasse a ser reconhecida no mercado.
Ou seja, o critério para saber se a empresa é Black Kigyou ou não
depende de como cada um interpretar suas condições de trabalhos tais como
expediente,benefícios,remuneração, férias, método de avaliação pelo RH na
empresa.Mesmo que precise trabalhar muito duro, caso a empresa lhe oferecer
remuneração ou promoção correspondente ao seu desempenho, ele não vai
considerar a empresa como Black Kigyou.
Como eu já lhe
expliquei num post antes, os japoneses sonham em continuar a trabalhar na
mesma empresa até que eles se aposentarem aos 60 anos, o que se chama de Syuushin Koyousei ( 終身雇用制 ).E mesmo recém-formados ainda têm esse desejo no fundo do coração.No
entanto,deixou de existir isso na prática há muito tempo.
Segue a figura,
no qual mostra quantos por centos de empregados saíram da empresa dentro de 3
anos conforme a sua escolaridade.
Como você pode
ver na figura, cerca de 30 % dos graduados deixam as primeiras empresas que se
ingressaram dentro de 3 anos!!
Para os
brasileiros que trocam de empregos toda hora, talvez este índice não é nada
surpreendente.Contudo, como os japoneses em geral superestimam persistências
dos trabalhadores, trocar empregos ou deixar empresa muitas vezes não são bem
vistos pelos japoneses.
Aliás, passando
35 anos, fica difícil arrumar empregos no Japão.Só quem está bem qualificado
vai conseguir uma vaga nas outras empresa.E as empresas que são classificados
como Black Kigyou aproveitam essa situação difícil dos empregados acima dos 35
e abusam dos seus serviços....
Segundo vários
reportagens que eu li, após o terremoto e Tsunami em 2011, muitos japoneses
refletiram sobre suas vidas inclusive seus trabalhos e mudaram empregos, pelos
quais lhes proporcionam mais sentido de vida do que salário.
O dinheiro é
importante sim, pois nós não podemos viver sem ele.No entanto, qual é sentido de
viver trabalhando sem acompanhar crescimento dos seus filhos e desfrutar das
coisas que a vida lhe oferece?Se o trabalho não lhe agradar nem um pouco, o que
adianta ganhar muito dinheiro?
Aos 23 anos, eu
entrei numa empresa de software no Japão junto com 30 colegas.Após 2 meses de
treinamento para aprender linguagem C e Unix, a empresa me mandou para centro de
desenvolvimento de telecomunicação.Lá eu tinha que trabalhar como
programador sob um chefe da outra empresa maior.Ou seja, eu fui vendido como
empregado “terceirizado” (escravo). O meu chefe da empresa me apresentou como
programador que tem 3 anos de carreira, apesar de que eu aprendi só linguagem C
e Unix durante dois meses.
Como o local de
trabalho ficava meio longe da minha residência, levava 1 hora e meia na ida de trem lotado,sem poder me sentar, e levava mesmas horas na volta.Mesmo fazendo 80
horas de horas extra por mês, a empresa me pagava apenas 20 horas de horas
extras e precisava declarar as horas extras conforme o que a empresa determinou.
Como é que uma
pessoa que aprendeu programação durante dois meses vai entender uma tecnologia
de ponta?Eu me sentia extremamente inútil no trabalho e não via nenhuma vocação
para programação infelizmente.Por isso, eu me demiti 6 meses depois e fui o
primrio a sair da empresa entre 30 colegas.Só que todos os 30 colegas também
deixaram esta empresa dentro de 5 anos.
Talvez essa
empresa fosse classificada como Black Kigyou hoje.Que seja, eu acredito que a
grande maioria das empresas no Japão é mais ou menos assim ou pior.
O que eu me
preocupo é o fato de que os problemas em relação ao trabalho na empresa há
quase 20 anos não estão nada resolvidos no Japão.
;)